domingo, 24 de janeiro de 2010

Pela primeira vez à favor dos Estados Unidos


Para ser sincera, fazer intercambio nos Estados Unidos nunca foi minha primeira escolha. Sempre quis fazer intercambio, mas queria ir para o Canadá ou Inglaterra. O problema é que já conheci parte do Canadá, então queria mudanças, e ir para a Inglaterra era mais caro, além de ter que passar um ano gastando em Euro, que é quase 3 reais. Minhas opções então caíram para Estados Unidos ou França, que eram mais ou menos o mesmo preço, e eu sei falar ambos os idiomas. Mas meu francês que aprendi em 2 anos não chega nem perto do inglês que passei 10 anos aprendendo e praticando 2 vezes por semana, por mais da metade da minha vida. Além de eu não estar preparada para me virar com meu Bonjour, Oui e Je ne parle pas français, há muito mais para alguém de 17 anos na terra de Hollywood, Halloween, White Christmas e Cheerleaders do que na Europa onde as pessoas têm fama de não ser tão receptivas e as atrações turísticas são em sua maioria museus. Então aqui estou eu.
Desde que cheguei, porém, meus instintos anti-estadunidenses que professores de Historia e Geografia sempre me fizeram acreditar afloraram. Realmente, aqui até abóboras são compradas em latas, e produz-se muito mais lixo do que o Brasil. Além disso, estadunidenses são bastante nacionalistas e acreditam fielmente que o mundo precisa deles, seja para defendê-los do próprio povo no Iran, ou porque a Florida produz 40% das laranjas do mundo. Dei muita risada quando ouvi meu professor de American History aqui contando essa ultima, e tive que discordar publicamente, já que qualquer suco de laranja que compro aqui tem escrito na embalagem "Made in Brazil", ou "Made in Guatemala", ou Made in outros países tropicais. Claro, ja bebi suco de laranja da Florida, mas não vejo motivo para importar do Brasil ou da Guatemala se a Florida produz 40% das laranjas mundiais.
Quando vi esse nacionalismo tão forte que chega a me afetar, naturalmente me tornei nacionalista também. Nunca me orgulhei tanto de falar que não vou fazer faculdade aqui porque no Brasil é de graça, e que não temos terremotos porque o país inteiro fica na mesma placa tectônica. Coisinhas simples, mas me fazem ver meu país de fora com outros olhos, e me fazem com certeza querer voltar e morar no Brasil.
No entanto, essa semana tive que apoiar os Estados Unidos da America. Aconteceu um terremoto no Haiti, e muita gente morreu ou perdeu casa e familiares, uma desgraça. Os Estados Unidos agiram imediatamente, com a idéia de que o mundo precisa deles, e enviaram tropas e mais tropas para ajudar a procurar por sobreviventes, e vejo comerciais o tempo todo informando como ajudar mandando mensagens de texto escrito "Haiti" para um certo número que $10 será retirado da sua conta e enviado para o Haiti. Milhões de dólares já foram enviados. Há cartazes na minha escola escrito "Help to Haiti", e frases do tipo. O país inteiro se mobilizou para ajudar um outro país mais pobre afetado por um desastre natural, mesmo que o Haiti provavelmente não seja um grande consumista de produtos americanos, como alguns brazileiros alegariam.
Sempre fomos americanos, afinal o Brasil tambem se localiza na America. Mas hoje é o dia em que me orgulho de dizer que EU sou americana. Apesar do medo de os Estados Unidos começarem uma guerra contra o Brasil, como eles podem começar com qualquer um, me conforta saber que se algo de ruim acontecer conosco, eles estarão aí para nós. Pela primeira vez, irei contra meus professores de geografia e historia. Eu concordo com 90% do que eles dizem contra os Estados Unidos, e sou prova viva de que é verdade. Mas o país não é lado negro do mundo, e esse intrometimento não é sempre ruim. Pelo contrário, está sendo no momento muito bom, e me faz muito feliz ter essa oportunidade de estar aqui para ajudar.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Semestral




Estava há alguns minutos atrás lendo coisas antigas que escrevi para pessoas antigas em fotologs antigos. Agora entendo porque eu costumava receber tantos elogios nos meus posts, quando eu realmente achava que estavam apenas tentando ser simpáticos. Realmente me impressionei. Talvez porque meus posts têm tudo a ver comigo, claro, mas me tocaram por serem escritos de forma tão calma e reflexiva. Posts que refletiam toda a minha raiva do momento, ser precisar chingar ou colocar muito mais que uma ou duas palavras em letra maiúscula, tocando delicadamente pensamentos comuns a todos.
Por isso volto aqui, seis meses depois do meu ultimo post, porque das cinzas em meu peito reacendeu a vontade de escrever. Vontade de tocar as pessoas que lêem o que escrevo, e fazê-las refletir sobre o jeito que fazem seja lá o que fizerem.
Se antes eu já tinha poucos leitores, agora terei numeros negativos. Mas no momento, eu não ligo. Só quero escrever, extravasar o que sinto sobre tudo o que me cerca e, principalmente, o que me compõe. Um mês depois do meu ultimo post neste blog, viajei para os Estados Unidos, e tenho morado aqui desde então. Estou de intercambio em Salina, no Kansas, e tenho sentido emoções completamente opostas, que variam em segundos. O pior de tudo é ter que guardar tudo isso para mim, parte porque demoro para fazer amigos em que confio, e parte porque minha experiencia me diz para não demonstrar minhas fraquezas.
Me faz falta escrever como eu conseguia. Tenho medo de não conseguir mais, já que desde aquela época minha vida mudou completamente. Eu não tinha traumas que hoje tenho. Estava vivendo o momento em qualquer momento, e essa caracteristica infantil me faz uma falta imensa. Queria não ter mudado, fui forçada a crescer. Tive que abandonar reações de impulso, assim preservaria melhor minha imagem e minha mente. Ainda consigo chorar, dois anos depois do impacto, mas não pelas pessoas que perdi. Aprendi que pessoas são passageiras, e 90% do meu passado me perdeu, e não o contrario, já que minha confiança só se ganha uma vez. Mas quando penso no passado, choro pelo que eu já fui. Choro quando leio o que eu escrevi, quando lembro o que eu senti. Era bom, era puro. Era simples. Odeio ter que pensar demais antes de agir, e conter as palavras que vem à cabeca expressar apenas o racional. O irracional me mostrou o mundo, e me tirou o mesmo em segundos. Mas o amei enquanto tive, e o aproveitei tempo suficiente para se tornar inesquecivel, o mundo. Para se tornar desejável, e me fazer sentir que, por mais que eu faça tudo o que eu quero, não é o bastante. O suficiente para meu lado irracional voltar para mim de tempos em tempos, me fazendo chorar pelo pedaço de mim que fui forçada a abandonar.
Eu quero minha adolescencia de volta. Fiz 18 anos mês passado, mas sinto e me comporto como se eu tivesse 40, às vezes até mais. Tento fazer pessoas da minha idade crescerem como eu, porque não suporto a solidão e invejo a pureza que perdi.
Se hoje eu tivesse que escolher o que prestar no vestibular (tenho adiado meu vestibular com esse intercambio), escolheria Jornalismo, porque quero escrever e não ter que parar. Ao mesmo tempo, um dos meus traumas me toca. Não quero expor meus sentimentos para quem quiser ler. Quando se expõe feridas, bacterias se aproveitam para te destruir.
No entanto, estou afim de tentar. Se quero voltar a ser o que um dia fui, adicionando alguns anos de experiência, o primeiro passo é voltar a escrever, que está na minha essência. É tentar fazer essa essência florescer de volta no jardim que cobri de pedras. E então, quando as primeiras pétalas desabroxarem, será o suficiente para que meu processo em mover pedras seja efetivo.
[FOTO: Hoje, 9 de Janeiro de 2010, Salina, Kansas USA ]